Principais indicadores afetados com a guerra na Ucrânia foram dólar, inflação e Selic.
Em fevereiro de 2022, o mundo foi impactado com a invasão das tropas russas no território da Ucrânia. Embora a tensão entre as duas nações já viesse se alastrando desde 2014, com a consumação da guerra de fato, diversos países sofreram consequências econômicas.
A guerra na Ucrânia continua, e após um ano, o economista Rodrigo Medeiros revisita a análise da Mercatus feita em março de 2022, sobre como os brasileiros — e mais especificamente os alagoanos — poderiam ser afetados pelo conflito.
Confira a análise a seguir:
Impactos da guerra na Ucrânia para Alagoas
Antes de começar a análise, Rodrigo explica que os efeitos da guerra devem, sobretudo, ser analisados de forma nacional.
Isso porque, embora aspectos específicos possam ser avaliados de maneira mais individual, como combustível e balança comercial, todos acabam sendo um reflexo do cenário brasileiro.
E mais que isso. Embora seja difícil considerar todos os pontos e contrapontos que envolvem a economia e política internacional, nem só efeitos negativos foram causados pela guerra.
“A guerra na Ucrânia afetou sim de forma negativa e afetou também de forma positiva”, revela o especialista.
“Para comprar um volume menor de fertilizantes se gastou um valor muito maior em dólar. Realmente impactou negativamente nesse sentido. No entanto, foi observado um aumento no volume de exportação, porque houve uma valorização em relação ao preço das commodities”.
Ou seja, se tratando de transações feitas em dólar, a economia perdeu na compra de fertilizantes russos, mas ganhou em outros itens. Na balança comercial, as commodities são mercadorias de origem primária, como milho, soja, café, carne e até minérios.
“O Brasil é um grande exportador de commodities, então em 2022, somente de exportação, o volume de U$ 46.5 bilhões em 2021, saltou para U$ 65,8 bilhões”, destaca Rodrigo.
Como ficou o preço dos combustíveis com a guerra na Ucrânia
Acontece que o Brasil tem altos custos na produção de combustível, ao mesmo tempo que o país é também exportador de petróleo. Por isso, a questão do combustível sofre influências fortes da guerra, fora as políticas internas.
E é nesse ponto que a inflação impactou diretamente no preço dos combustíveis — provocando um aumento que pegou a maioria dos brasileiros de surpresa.

“Esse aumento dos combustíveis trouxe aquele susto pros brasileiros, né? Um susto que todo mundo lembra e para tentar frear um pouco isso foi utilizado a retirada de alguns impostos federais”, relembra o economista.
Entre os impostos baixados, estão PIS e Cofins. Segundo Rodrigo, essa mudança fez com que as pessoas passassem a observar apenas os aspectos internos da precificação de combustíveis. Afinal, 2022 foi um ano político com decisões extremamente acirradas.
Como desenrolou a situação dos juros e inflação
Como consequência — dos fatos internos e externos citados logo acima — a inflação subiu exponencialmente, seguida pela taxa de juros.
“A taxa de juros começou a crescer para tentar barrar um pouco a inflação e mesmo assim a inflação estava extrapolando, com a meta estourando o teto em 5%. E mesmo assim, não foi alcançado esse patamar e o ano fechou em 5,79%”, enfatiza Rodrigo.
“Outro ponto seria a taxa Selic, que está sendo bem polêmica. Esse aumento que está vindo de forma gradual desde 2021, não para de crescer e a tendência é que continue ainda nesse mesmo patamar”, completa.

De todo modo, Rodrigo volta a pontuar que a guerra, mesmo que não esteja sendo falada pela mídia ou pela população, tem grande parte de interferência nesses aspectos.
“Ainda assim, como a gente sabe, a Rússia é uma grande exportadora de gás natural, de fertilizantes, dentre outros produtos. Os efeitos da Guerra ainda estão aí, ainda é difícil comprar fertilizante, etc., então é possível sim que no futuro os efeitos da guerra se tornem piores para o Brasil”, diz.
“Apesar da Guerra ter deixado de ser a atenção principal, ela ainda tem um papel muito importante nesse momento. Se daqui alguns meses voltar o aumento nos combustíveis, principalmente, parte disso pode ser atribuído à guerra.”
O que fazer diante da situação
O cenário atual de flutuação do dólar, as discussões e os acordos que são ou não firmados entre as nações colocam o brasileiro em estado de alerta.
“A gente está vivendo um momento de discussões internacionais e nacionais, muitos acordos políticos, países que estão ameaçando se envolver nessa guerra. Então o cenário que a gente vive hoje é de instabilidade”, afirma.
“O dólar nessas últimas semanas tem flutuado por especulações, informações dos Estados Unidos sobre nível de inflação, nível de desemprego, sobre um dos maiores bancos que financia startups quebrar.”
E para não ser pego de surpresa, o economista avisa que é importante ficar de olho nas notícias.
“É uma guerra, eu acredito que muitas pessoas nunca se depararam com isso na vida, então acompanhar é sempre se preparar para isso. E acompanhar é se preparar também financeiramente, né? Porque a gente nunca sabe os preços, os custos de amanhã, para eletricidade, combustível”, declara Rodrigo.
O economista acredita, inclusive, que se pudesse escolher uma única palavra para descrever os diversos cenários analisados, a definição seria: incerteza.
Para saber mais sobre economia no Brasil e no mundo, siga a Mercatus nas redes sociais.