Especialista explica como os festejos juninos poderão impactar economia local.
Após dois anos de pandemia, a população alagoana se agitou com os anúncios da programação dos festejos públicos juninos para 2022.
Com grandes nomes da atualidade da música brasileira, do forró à eletrônica, a Prefeitura de Maceió e o Governo de Alagoas elaboraram uma programação para fazer os fãs de São João ficarem – e gastarem – em Alagoas durante o mês de junho.
O lançamento oficial das atrações gerou diversos memes e comentários positivos nas redes sociais. Entretanto, não foram poucos os questionamentos e críticas sobre o gasto público para o porte da realização dos eventos. Apesar disso, ambos os poderes se referem às festas como um investimento na economia local.
Mas, afinal, as festas de São João são um gasto ou investimento do dinheiro público?
Para o economista Pedro Neves, levando em consideração as definições do setor público para “investimento”, gastos como esse não se enquadram como um investimento, pois não deixam uma infraestrutura ou melhoria de um determinado serviço para o município ou estado.
Contudo, mesmo não caracterizando um investimento do orçamento público, o economista destaca que esses são gastos que impulsionam a economia local, principalmente na circulação financeira de diferentes setores.
“À medida que uma prefeitura ou um governo do estado faz a contratação de uma banda, de uma atração artística e monta uma estrutura de curto prazo para atrair um grande público, há uma circulação financeira em algumas cadeias específicas e aí você tem o impulsionamento de atividades como o comércio e setor de serviços”, exemplifica.
Dessa forma, a lógica é que as festas de São João poderão movimentar o comércio de vestuário, por exemplo, uma vez que o público se preocupa em providenciar novas peças de roupas para assistir os shows.
Já no caso do setor de serviços, a expectativa é que o turismo seja beneficiado não só por receber os artistas famosos, mas por hospedar também os fãs de outras localidades que venham prestigiar essas bandas.
“O grande dilema é equilibrar essa despesa com o retorno socioeconômico para a região”, destaca Pedro sobre a quantidade de recurso financeiro gasta e as expectativas de movimentação financeira dos eventos.
Valores e expectativas econômicas
Embora muita gente tenha comemorado a programação diversificada e disputada do governo e da prefeitura, foram os valores gastos para promover os festejos públicos que renderam críticas.
Segundo informações da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-AL), serão investidos R$ 20 milhões nos festejos juninos por toda Alagoas, incluindo atrações locais e nacionais na capital e no interior.
Para o governo, a expectativa é que os festejos gerem mais de 30 mil empregos, diretos e indiretos. Também é esperado que o valor gasto retorne ao tesouro estadual, por meio de impostos, no total de R$ 50 milhões e que, durante o período de festa, que vai de 1º a 30 de junho, a economia alagoana seja movimentada em cerca de R$ 1 bilhão.


Já o São João da capital deve movimentar a economia da cidade em mais de R$ 100 milhões, segundo a Prefeitura de Maceió. A Mercatus entrou em contato com a assessoria do evento para obter o valor total gasto com as atrações, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
O economista Pedro Neves acredita que, com o retorno das programações festivas em Maceió, tornando-a competitiva com as tradicionais comemorações juninas de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), é importante haver um alinhamento de recursos financeiros com o setor privado para o custeio, ao menos, das grandes atrações, como acontece nas outras duas cidades.
“[Nessas cidades] Boa parte dos gastos com o evento, principalmente com as atrações que têm um valor de cachê mais alto, são custeados pelo setor privado, e o setor público fica responsável pela parte da infraestrutura de palco, remanejo de força militar, agrupamento de técnicos de saúde e de limpeza”, exemplifica.
Além da economia
O economista pontua ainda que, a importância das festas juninas para a população nordestina supera a perspectiva econômica, já que se trata da época do ano em que tradições locais, como as quadrilhas e comidas típicas da região, são mais exaltadas.
“Além do benefício econômico, a gente tem a manutenção de atividades culturais, tradições que poderiam não ser sustentadas se não houvesse o gasto público. Claro que é um debate político se o poder público deve usar o recurso dos contribuintes para manutenção de atividades culturais, mas tendo um resultado positivo, vai além da questão econômica”, enfatiza Pedro.