Guerra e queda do dólar: como fica o cenário econômico de Alagoas

(Foto: NeONBRAND/Unsplash)

Variação cambial pode ter efeito negativo na inflação, mas é positiva para importações.

Na última quinta-feira (10), o dólar fechou a R$ 5,017, depois de ter chegado a operar em R$ 4,98 no dia anterior e encerrado em R$ 5,011, valores muito abaixo do habitual. Em março, a moeda já acumula queda de 2,81%. Considerando 2022, o recuo vai para 10,14%.

Essa oscilação do câmbio tem sido motivada pela tensão no mercado internacional, em consequência da guerra entre Ucrânia e Rússia. Com isso, no Brasil, após anos de desvalorização do real, a moeda nacional pode ver um pequeno efeito positivo no cenário.

Entretanto, o que à primeira vista parece ter uma perspectiva positiva para a economia local, a longo prazo pode representar um agravamento dos juros e da inflação, como explica o economista Rodrigo Medeiros.

“Não só para Alagoas, mas para o Brasil, o impacto mais forte deverá ser uma inflação mais alta do que se projetava antes da guerra. Especialmente com a aceleração das cotações das commodities, como o petróleo”, cita.

Combustível pode ficar ainda mais caro

Na última semana, o banco britânico Barclays revisou a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022 e o elevou de 5,3% para 5,8%, ao incorporar acontecimentos recentes, como o conflito internacional.

Avaliando as projeções do banco, o economista diz que a Petrobras teria que elevar os preços internos dos combustíveis em quase 40% para corrigir a defasagem em relação aos preços externos.

Na quinta (10), a estatal anunciou um aumento de 24,9% no diesel e de 18,7% na gasolina. No mesmo dia, os consumidores já começaram a encontrar postos de abastecimentos com gasolina a mais de R$ 7,29 o litro.

Postos em Maceió antecipam aumento do combustível, após anúncio da Petrobras. (Foto: Thiago Oliveira)

E embora exista uma chance de redução dos impostos sobre combustíveis, visto que há discussões a respeito no Congresso e de redução de 25% da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), as possibilidades não garantem alívio no custo dos itens para o consumidor final.

“Há outras fontes de pressão sobre os preços, como a alta do trigo e dos fertilizantes, que vem pressionando a inflação e preocupando ainda mais a economia nacional, que é dependente desses produtos, principalmente no setor agrícola”, enfatiza Rodrigo.

Nesse cenário, o economista destaca, segundo a análise do banco britânico, o risco de a Selic, a taxa básica de juros sobre crédito, subir ainda mais, como forma de conter a inflação para os próximos meses. Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano.

Efeito do dólar nas importações de Alagoas

Ainda com todos esses prejuízos previstos no médio e longo prazo, é inegável que a baixa do dólar poderá ter resultados positivos para as negociações internacionais feitas pelo estado durante este período.

Em Alagoas, por exemplo, a balança comercial de 2021 foi encerrada com um déficit de US$ 328,2 milhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Isto é, mais de 300 milhões de dólares gastos a mais com importações do que recebidos com exportações.

O economista conta que, segundo um levantamento do ComexVis, base de dados do Ministério da Economia sobre o comércio exterior, a Rússia é o terceiro principal mercado de importação de Alagoas. O fato coloca o estado em uma relação econômica direta com o país que atualmente vivencia o conflito internacional.

“Assim como no cenário nacional, o agronegócio alagoano é consumidor dos fertilizantes russos. E os fertilizantes foram o segundo produto mais importado pelos alagoanos em 2021”, comenta Rodrigo.

Dessa forma, mesmo com os produtos exportados também sofrendo uma desvalorização com a queda do dólar, a balança comercial de Alagoas é muito mais impactada pelos valores gastos com as importações e pode se beneficiar com esse momento.

(Foto: Scott Goodwill/Unsplash)
(Foto: Scott Goodwill/Unsplash)

“A variação cambial afeta diretamente o saldo da balança comercial, por ela ser medida em dólar. A desvalorização da moeda americana frente ao real favorece o saldo da balança, caso o volume transacionado siga estável, por tornar o preço do produto mais barato”, diz.

O economista pontua ainda que esse evento também pode gerar um estímulo por parte dos empresários em aumentar o volume dos produtos importados para aproveitar essa redução da disparidade cambial. Com isso, o valor gasto com importações ainda seria alto.

Rodrigo ressalta que, apesar da tendência de queda, não há como garantir que o dólar se mantenha em patamares mais baixos nos próximos meses, pois os fatores que estão provocando a oscilação da moeda podem ter reviravoltas abruptas. 

“A volatilidade do mercado internacional com a tensão entre Ucrânia e Rússia e os fatores domésticos, como as eleições deste ano, vão continuar impactando na taxa cambial”, relembra o economista.


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Estagiária de jornalismo

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