Surto de dermatite em PE não foi causado pelo uso da ivermectina, revela SBD

Dermatologistas apontam relação com asas de mariposas.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) publicou, na última quarta-feira (8), uma nota técnica esclarecendo a causa do surto de sarna no estado de Pernambuco.

Uma das hipóteses levantadas foi a de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que apontava que seriam casos de sarna associados ao uso indiscriminado da ivermectina.

Dermatologistas que atuam no Nordeste, em conjunto com a SBD, conseguiram identificar as causas de mais de 200 casos de dermatites registradas em duas comunidades próximas à mata, localizadas em uma área de reserva de Mata Atlântica do Parque Estadual de Dois Irmãos, em Recife (PE).

Esta semana, foi confirmada que a causa tem relação com as asas de mariposas.

O trabalho, realizado pelos dermatologistas Cláudia Ferraz e Vidal Haddad Júnior, permitiu descartar várias hipóteses levantadas para explicar a origem do surto.

Entre as possibilidades, estavam: intoxicação por ivermectina, escabiose (sarna), picadas de insetos, entre outras. Porém, nenhuma das hipóteses tiveram comprovação técnica ou científica.

Em nota técnica, os dois especialistas explicam que “a hipótese de escabiose era absurda, pois o tipo de transmissão é outro, a distribuição e aspecto das lesões cutâneas eram distintos e nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame direto e exames histopatológicos”, salientam.

Como foi feita a descoberta

Para encontrar o real motivo do surto em Pernambuco, a dermatologista Cláudia Ferraz conduziu uma pesquisa sobre a história epidemiológica, descrevendo as lesões, o que levou a suspeitar da provável etiologia.

O dermatologista Vidal Haddad Júnior, que havia testemunhado e publicado outros surtos, também esclareceu a etiologia da erupção.

Os dois concluíram que a chave do problema seriam as asas de mariposas do gênero Hylesia, que se reproduzem nesta época do ano e causam epidemias de dermatites em vários lugares do país.

Os insetos entram em ambientes domésticos, e ao se debaterem contra focos de luz, liberam cerdas corporais minúsculas, que penetram profundamente na pele humana e causam intensa dermatite observada.

Além da inflamação inicial, descrita na histopatologia como um infiltrado linfocitário, também existe uma probabilidade de formação de granulomas em fases posteriores.

A dermatite permanece por dias, até semanas, devido à permanência das cerdas (“flechettes”) na pele, que podem ser observadas através de exames.

Segundo os especialistas da SBD, o tratamento deve ser feito com foco na inflamação, usando corticoides tópicos, anti-histamínicos e, dependendo da extensão das lesões, pode ser necessário o uso de corticoides sistêmicos.

“Com a comprovação das cerdas no exame direto, história clínica e epidemiológica extremamente compatível e relato de mariposas no local feito pelos moradores, concluímos que o mistério está resolvido e esperamos que os tratamentos corretos sejam ministrados à população”, concluem os dermatologistas.

A nota técnica na íntegra pode ser acessada através do link.


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