Até outubro de 2021, operações de M&A já somavam US$ 4,3 trilhões, segundo Refinitiv.
O mercado de fusões e aquisições globais (M&A, na sigla em inglês) está cada vez mais próximo de bater o recorde anual de transações, que foi de US$ 4,8 trilhões em 2015. Até outubro, os acordos de 2021 já passavam dos US$ 4,3 trilhões, de acordo com dados da Refinitiv.
A previsão da KPMG, empresa global que presta serviços de Audit, Tax e Advisory, é de que as operações atinjam US$ 6 trilhões até o fim deste ano, de acordo com informações da CNBC.
Especialistas defendem que os estímulos para retomada da economia no cenário de pandemia são os principais fatores para o alto volume de transações.
As baixas taxas de juros no mercado internacional e o crescimento das diferentes fontes de capital disponível, que intensificam as estratégias de aquisições, são alguns dos fatores elencados pelo assessor de M&A João Paulo Ramalho.
Além disso, o especialista destaca o crescimento de setores específicos como contribuintes para o cenário. “O crescimento de valor e de receita das gigantes do setor tecnológico também proporcionaram um crescimento nas aquisições dessa área, com cada vez mais teses de crescimento inorgânico sendo agregadas à estratégia das corporações”.
Para o assessor de M&A João Felipe Jucá, outra estratégia que capitalizou as grandes empresas e aqueceu o mercado de fusões e aquisições foi o movimento de entrada na Bolsa de Valores.
Com a redução do depósito compulsório — valor que os bancos são obrigados a deixar sob custódia do Banco Central, a abertura de capital na B3 ficou mais atrativa.
“Com isso, muitas companhias conseguiram ir para Bolsa de Valores para realizarem IPO [sigla em inglês para “Oferta Pública Inicial”[ e Follow-on — no caso das ofertas subsequentes — como forma de se capitalizar, além de obter recursos com debêntures, os títulos de dívida emitidos por empresas”, esclarece Jucá.
Cenário de M&A no Brasil
No Brasil, apesar das taxas de juros já não estarem tão baixas como nos mercados desenvolvidos, um movimento recente de empresas abrindo capital na bolsa alavancou um recorde no número de IPOs das companhias nacionais, como explica Ramalho.
“Com isso, muitas dessas empresas ficaram capitalizadas e tinham como estratégia de crescimento a tese inorgânica, utilizando as fusões e aquisições. Regionalmente, isso não foi exceção, tanto com grupos nordestinos quanto com grupos de outras regiões buscando entrar no nosso mercado adquirindo empresas locais”, considera.
Assim, as empresas menores, que enfrentaram dificuldades em virtude da crise econômica, acabaram dando início ao boom das novas aquisições que marcaram e fortaleceram diversos setores.
“De um lado, empresas com abundante acesso a capital via emissão de ações ou dívida. De outro, empresas familiares e regionais com dificuldade de caixa e de sobrevivência. O resultado foi e está sendo um grande processo de consolidação em alguns setores como educação, saúde e provedores de internet”, enfatiza Jucá.
Para o especialista, as condições financeiras e os hábitos comportamentais da população provocados pela pandemia e a própria estrutura do mercado que não comporta um número excessivo de players justificam as aquisições dos setores mencionados.
Momento favorável para empresas regionais
No setor de saúde, Jucá relembra nomes como a Rede D’or, Athena Saúde, Grupo Kora, NotreDame Intermédica e Hapvida, que vêm competindo pela aquisição de hospitais, redes de clínicas e laboratórios na região Nordeste — inclusive em Alagoas.
Já na área de provedores de internet, Aloha Telecom, Desktop e Unifique são algumas das companhias que estão se destacando nas aquisições.
“Particularmente, vejo esse processo como favorável às empresas regionais. Passar por um processo de M&A vendendo parcialmente sua empresa para um grupo mais forte no mercado pode significar um interessante convite à profissionalização e integração a uma estrutura de mercado muito mais competitiva”, analisa.
Passada essa onda de aquisições que tende a favorecer o empresário regional de menor porte, Jucá acredita que o mercado voltará a adotar uma estratégia de crescimento orgânico, conforme as empresas consolidam sua participação na região.