Por que grupos de saúde estão comprando hospitais e redes de clínicas no Nordeste?

(Foto: Divulgação)

Movimento de consolidação do setor registrou várias aquisições de hospitais no Nordeste.

O grupo Dasa comprou o hospital maranhense São Domingos; a Rede D’Or anunciou a compra de 51% do Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa; Athena Saúde comprou Unihosp operadora do Maranhão; Hospital São Mateus foi vendido por R$ 92,1 milhões ao Grupo Kora Saúde que também adquiriu o Hospital Gastroclínica, em Fortaleza, por R$ 82 milhões.

Até investidores financeiros vêm participando desse processo, como a XP Investimentos que realizou uma operação em Recife adquirindo o Hospital de Olhos Santa Luzia, no Recife.

O setor de saúde é um dos mercados que mais registrou transações de fusões e aquisições nos últimos 3 anos. Grandes grupos de saúde como Notredame Intermédica e Hapvida, Grupo Dasa, MaterDei e Rede D’or lideram esses números e vem capitaneando uma consolidação de mercado, onde grupos maiores começam a adquirir outros participantes com a intenção de verticalizar seus serviços adquirindo um cliente ou fornecedor, ou apenas ganhar participação de mercado comprando um concorrente.

Manter a operação de um hospital é bastante dispendioso, no entanto, ao fazer parte de um grande grupo empresarial, muitos destes custos se diluem entre os hospitais ganhando escala e sinergia de receitas.

Quando um hospital adquire um laboratório, por exemplo, ele passa a encaminhar o paciente para fazer exames na mesma rede de laboratório, completando todo o ciclo de atendimento.

Do lados das despesas, um grupo grande que negocia maiores volumes, possui maior poder de barganha junto aos fornecedores e às operadoras de plano de saúde.

Isso porque os hospitais vivem uma queda de braço com as operadoras de planos de saúde em relação aos repasses dos serviços prestados. Assim, a maior fonte de diversificação de receita dos hospitais são as cirurgias eletivas, que foram proibidas durante a pandemia.

Dessa forma, o já pulverizado setor de saúde, marcado por empresas de gestão familiar e cooperativas de médicos, com uma grande dependência desses repasses das operadoras, sofreu bastante, amargando diversas perdas no período, o que também foi visto como uma oportunidade de compra pelos grupos maiores.

Por que agora?

Se esse racional faz tanto sentido assim, porque não vimos esse movimento antes? Uma das razões para esse movimento ter iniciado há pouco tempo, é que até 2015 era proibido ao estrangeiro participar de empresas de assistência à saúde.

Apenas com a Lei nº 13.097/15, houve autorização dessa participação. Aliado a esse fator, o ambiente macroeconômico de redução da taxa básica de juros incentivou uma busca pelo capital de risco, com uma grande migração de investidores para bolsa. Muitos desse grupos realizaram seu IPO (oferta primária de ações), se capitalizando com o objetivo de adquirir participantes menores.

Esses fatores aceleraram o movimento de consolidação, o que contribuiu para a ocorrência de um grande número de aquisições. O que demonstra um momento bastante atrativo para controladores que consideram vender um hospital, uma vez que há bastante liquidez no mercado e os grupos estão concorrendo por essas oportunidades e pagando múltiplos altos de transação.

Na transação da Clinipam para o Grupo Notre Dame, foi divulgado um múltiplo de 25 vezes o Ebitda da companhia. Isto quer dizer que o Grupo Notre Dame aceitou pagar pela Clinipam 25 vezes o Ebitda que a Clinipam é capaz de gerar num ano. Esse é um múltiplo considerado recorde.

É comum que esses movimentos de consolidação sejam seguidos de um isolamento por parte dos grandes grupos que, ao ficarem mais fortes após as aquisições, tentem tomar o mercado daqueles que optaram não participar.

Portanto, é preciso ficar atento à essa janela de oportunidade que pode, inclusive, representar um convite a profissionalização da gestão e fortalecimento do negócio, uma vez que é frequente também transações de venda parcial.

Porém, é preciso ter cuidado ao realizar uma transação dessa natureza. Muitas vezes há uma assimetria de informação muito grande. Os grandes grupos estão acostumados a lidar com essas operações e põem executivos com bastante experiência de mercado e habituados a lidar com M&A.

A contratação de um assessor financeiro ou de um escritório para assessorar essa transação pode preservar um valor muito maior, além de reduzir as desvantagens de negociação, mitigando o poder de barganha da outra parte.

A avaliação por múltiplos citada acima, por exemplo, pode distorcer os valores de transação numa negociação. Assim, um bom assessor de M&A irá apresentar uma avaliação pelo método de fluxo de caixa descontado, como explicado nesse texto.


João Felipe Jucá é assessor de M&A e sócio fundador da SG Capital. Advogado com pós-graduação em direito empresarial e presidente da Comissão de Direito empresarial da OAB-Alagoas.

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