Nº de endividados cresce em Maceió; especialista explica fatores envolvidos

(Foto: Stephen Phillips/Unsplash)

Embora seja popularmente associado à inadimplência, endividamento representa aumento do consumo.

Em agosto, Maceió registrou o maior índice de endividamento das famílias dos últimos onze meses, registrando percentual de 68,8%.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) realizada pelo Instituto Fecomércio AL, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mais de 30 mil maceioenses contraíram algum tipo de dívida nos últimos quatro meses.

A curto prazo, o cenário representa uma ligeira recuperação econômica na capital. Contudo, no longo prazo outras questões precisam ser analisadas para definir o crescimento como negativo ou positivo. É o que explica o economista Adhemar Ranciaro Neto.

“O endividamento em si não é ruim, tudo depende da perspectiva de poder honrar essa dívida. Se pegar um cenário que está se avizinhando aí de alta da taxa de juros, isso significa freio nos investimentos e provavelmente desemprego, então não vai haver renda para pessoa pagar a dívida”.

Os dados da PEIC de agosto apontam que esse cenário pode já estar acontecendo. O levantamento mostra que o percentual de famílias com dívidas em atraso também acompanhou o movimento de alta: são mais 12 mil inadimplentes nos últimos quatro meses em Maceió, chegando a 58 mil pessoas nesta situação.

Mas afinal, o que é o endividamento familiar?

O endividamento familiar diz respeito a todas as parcelas em aberto que um núcleo de família possui. Isso quer dizer que compras que não foram pagas à vista — mas utilizando cartão de crédito ou carnê, por exemplo — são consideradas dívidas e, portanto, se somam ao percentual de endividamento.

Logo, qualquer pessoa que tenha dívidas ativas, ainda que estejam sendo pagas em dia, é um endividado. Vale destacar que isso não significa que a pessoa tenha restrições em seu nome, o famoso ‘nome sujo’. Isso só ocorre quando há inadimplência.

Então, endividamento não é inadimplência?

Não. A inadimplência acontece quando o cidadão endividado não consegue honrar o pagamento das contas dentro do vencimento. Só então as empresas de análise e proteção de crédito começarão a realizar cobranças e restrições no nome do inadimplente.

Portanto, uma pessoa endividada não necessariamente é inadimplente.

E por que o endividamento pode ser visto como ‘positivo’?

O crescimento da taxa de endividamento representa um aumento do consumo por parte da população. Mas aqui ainda é necessário fazer uma análise mais ampla para compreender por que o fator é positivo para a economia da capital alagoana.

Considerando um cenário anterior de baixa atividade econômica, como aconteceu em Maceió com as restrições impostas pela pandemia, o endividamento significa que as pessoas estão voltando às compras.

E para que esse aumento no consumo ocorra, dois fatores estão sendo primordiais. “Há um aumento do consumo, desencadeado pela ampliação da vacinação e flexibilização do comércio, em paralelo com o pagamento do auxílio emergencial e do Bolsa Escola Municipal (BEM)”, destaca Victor Hortencio, assessor econômico da Fecomércio AL.

Com isso, é possível afirmar que, ao menos a curto prazo, o endividamento consolida a retomada da economia na capital. “No curto prazo isso tende a ser positivo porque a pessoa toma um empréstimo e vai gastar, então ela vai estar elevando os indicadores da economia”, enfatiza Adhemar Ranciaro Neto. 

Como fica o cenário do endividamento a longo prazo?

O assessor da Fecomércio, Victor Hortencio, ressalta, porém, que o cenário ainda é crítico. “A economia ainda sofre com os percalços da crise pandêmica, trazendo indicadores recordes de desemprego, bem como altos índices de inflação”.

A longo prazo, esses mesmos fatores que provocaram a retenção do consumo no ano de 2020 — o desemprego e a inflação — devem apresentar uma normalização dos seus índices para que a população consiga evitar a inadimplência e manter o consumo elevado.

Para Adhemar, embora seja necessário ter cautela, a tendência é que esses indicadores comecem a melhorar. “Com relação aos empregos formais, a gente está vendo um crescimento pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) e tudo indica que essa situação [de desemprego] pode ser sanada”, afirmou.

“E com relação à inflação, a ideia é que no Brasil, com o cenário se estabilizando e o câmbio retornando ao seu patamar de equilíbrio, isso pode ajudar a desacelerar o aumento dos preços e a partir daí a gente poderá ter uma melhoria no cenário”, conclui o economista sobre as perspectivas do endividamento familiar no longo prazo.

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Estagiária de jornalismo

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