O setor da construção civil em Alagoas está cada vez mais técnico e exigente, movimentando centenas de milhões de reais por ano, o que não permite mais profissionais amadores.
O mercado imobiliário é o setor que teve o melhor desempenho durante a crise econômica do país. Em 2020, a venda de imóveis residenciais novos cresceu 9,8% em comparação com 2019, segundo levantamento realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
As previsões para 2021 são ainda melhores. Segundo estimativa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o mercado imobiliário crescerá 30% neste ano – apenas no primeiro trimestre os financiamentos imobiliários cresceram 113% na comparação com o mesmo período de 2020.
O setor da construção civil em Alagoas está acompanhando a conjuntura nacional, tanto no segmento de alto luxo como no de médio padrão, temos construtoras locais como Colil, Lares e V2 investindo em diversos lançamentos, do quais podemos destacar o New Time, Mansão Galba Acioly, e Residencial da Vinci. No médio padrão, temos a Telesil com o Residencial Comendador Guttenberg Brêda, e MRV que estreou sua linha Sensia através do lançamento do empreendimento Horizontes do Atlântico.
Esses são poucos exemplos de como o cenário imobiliário de Alagoas irá se comportar nos últimos anos. Essa perspectiva de crescimento decorre da facilidade do crédito imobiliário no Brasil, com a Selic batendo sua mínima histórica no início de 2021.
Além de fatores nocionais, Alagoas ainda tem o fenômeno decorrente do desastre ambiental envolvendo o afundamento do solo de diversos bairros provocado pela Braskem. São 55 mil pessoas afetadas e que precisam de moradia nos próximos anos.
Ou seja, o setor da construção civil é o segmento da economia de Alagoas com maior número de oportunidades de negócio e emprego para diversos profissionais, como: corretores, advogados, engenheiros, arquitetos e investidores.
Todavia, em contraponto ao crescimento e estruturação do setor, nós percebemos uma massa de profissionais que não estão tendo uma formação adequada para acompanhar a evolução do mercado, com atuação extremamente limitada.
O setor imobiliário não comporta mais advogados que sabem apenas redigir contratos, corretores que sabem apenas vender e engenheiros que apenas administram as obras. É um mercado que movimenta centenas de milhões de reais por ano, logo não existe mais margem para o amadorismo. As construtoras e os investidores estão exigindo profissionais cada vez mais técnicos e completos.
E a culpa dessa mão de obra desqualificada está na péssima formação desses profissionais. Os cursos de direito em Alagoas sequer têm a matéria de direito imobiliário na grade curricular, os cursos de Técnico em Transações Imobiliárias não são suficientes para formar corretores qualificados e os cursos de engenharia civil estão distantes do mercado.
O profissional que trabalha ou deseja trabalhar no setor da construção civil precisa ter a consciência de que ou ele procura meios para fazer uma formação técnica completa ou ficará de fora comendo apenas migalhas. Os valores que envolvem uma transação imobiliária requerem um profissional que domine as questões jurídicas, fiscais e econômicas da operação.
O mercado não perdoa e não espera, é necessário urgentemente qualificar os profissionais para atuarem no setor da construção civil do nosso estado, ou simplesmente profissionais qualificados de outros estados ocuparão esse espaço vago.
Alagoas sempre foi uma péssima mãe, mas uma ótima madrasta.
Charles Vieira é advogado na área empresarial, com foco no setor imobiliário, graduado em Direito pela Universidade Federal de Alagoas, com especialização em Direito Tributário pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Direito Imobiliário pelo EBRADI/SP e Mestrando em economia e mercado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente exerce a função de Assessor Parlamentar, para assuntos tributários, na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas.
