Comprar agora ou poupar para o futuro? O caminho para a independência financeira

(Foto: Freepik)

Vimos em post anterior nesta coluna que a situação dos aposentados no Brasil não é nada boa, apenas 1% destes conseguem manter o seu nível de renda após o período economicamente ativo. E, para agravar o quadro, nas próximas décadas a pirâmide etária brasileira tende a impor ainda mais restrições para os futuros beneficiários do sistema de seguridade social. 

Desta forma, cabe a cada indivíduo a busca por alternativas e estratégias para geração de renda complementar neste período. Esta procura exige, necessariamente, algum grau de planejamento e organização financeira para que o patrimônio – dentro ou fora do mercado financeiro – construído ao longo do tempo forneça a renda desejada.

Chamamos de renda passiva aquela renda fruto apenas de rendimentos e que consegue cobrir o custo básico de vida. E, o período de seu recebimento chamamos de aposentadoria ou liberdade financeira. 

Enquanto o primeiro remonta a um período da vida em que a capacidade de trabalho e geração de renda são reduzidos, ou seja, quando existe a necessidade de redução do ritmo de trabalho, o segundo enseja um período de segurança, autonomia e independência.

Franco Modigliani, Nobel de Economia em 1985, desenvolve um modelo que divide, por hipótese, a vida financeira dos indivíduos em três principais fases: 

  1. Endividamento (fundação): onde o consumo excede a renda e o indivíduo recorre a dívidas ou, como no caso de muitas famílias, as despesas de um jovem adulto são bancadas pelos pais.
  2. Acumulação de patrimônio: onde a renda excede o consumo e há capacidade de quitar dívidas e acumular riqueza.
  3. Aposentadoria (usufruto): onde o indivíduo finalmente usufrui daquilo que acumulou ao longo da vida

Podemos enxergar este ciclo por duas óticas, renda e patrimônio.

Ótica da renda

Ótica do patrimônio

O modelo, que é uma simplificação da vida financeira dos indivíduos, ressalta a importância de se planejar, pois a dinâmica do consumo e renda exige que o indivíduo pense e atue de forma racional durante o período de acumulação de patrimônio.

Dito isto, a grande problemática é saber dimensionar o esforço a ser desprendido para se alcançar a tal segurança ou liberdade financeira, o que implica tomar decisões de consumo e poupança hoje visando determinado período futuro.

A Economia Comportamental nos dá algumas pistas para compreender por que tomar decisões racionais são difíceis. Segundo Daniel Kahneman e Amos Tversky, Nobel de Economia em 2002, utilizamos heurísticas que simplificam o processo de decisão, mas que podem nos levar a erros de percurso: os vieses.

São atalhos que facilitam a tomada de decisão, porém, que nem sempre apontam para a direção correta. Um deles é o Desconto Hiperbólico, viés cognitivo que nos leva a valorizar benefícios imediatos e reduzir o valor de benefícios futuros. Por exemplo: temos dificuldade em enxergar o fator exponencial dos juros compostos e o que ele é capaz de nos entregar no longo prazo e, em detrimento, priorizamos gastos imediatos. Temos um trade off entre o consumo no curto prazo e o consumo futuro que exige o poupar e investir durante toda a fase de acumulação.

Ou seja, não sabemos o quanto de patrimônio conseguimos construir com um aporte regular mensal de apenas R$ 100,00 durante 30 anos em um investimento com retorno de 1% ao mês, por exemplo. O prazo distante e os juros compostos dificultam a visualização desse cenário. 

Como resultado teríamos acumulado cerca R$ 350 mil reais, com um esforço financeiro de R$ 36 mil. O que significa que R$ 314 mil foram gerados por juros compostos – o retorno do investimento. Por outro lado, caso a aplicação fosse em juros simples o valor seria aproximadamente de R$ 100 mil.

Durante a fase de acumulação podemos utilizar para investimento tanto ativos de renda fixa quanto de renda variável. Porém, respeitando a tolerância ao risco, é recomendado um peso significativo em renda variável para que se consiga um ganho acima da inflação do período.

Sabemos que os retornos observados nos mercados de renda variável não ocorrem em linha reta, como representado no gráfico acima. As oscilações constantes dos resultados fazem o indivíduo duvidar do planejamento, e, mais uma vez, ser induzido a priorizar o consumo imediato, interrompendo o planejamento de independência financeira.

As questões entre consumo imediato e poupança futura podem parecer óbvias, mas, por certo, não são fáceis.  Para superar os desafios de se alcançar a independência financeira, ter um planejamento claro e com metas objetivas é fundamental.

Guilherme Lages é economista, especialista em Finanças, Investimentos e Banking (PUC-RS) e tem MBA em Gestão Financeira pela Fundação Getúlio Vargas. Hoje, atua como assessor de investimentos, trazendo segurança patrimonial para famílias através de um trabalho especializado no planejamento financeiro e diversificação global dos investimentos.


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Guilherme Lages é economista, especialista em Finanças, Investimentos e Banking (PUC-RS) e tem MBA em Gestão Financeira pela Fundação Getúlio Vargas. Hoje, atua como assessor de investimentos, trazendo segurança patrimonial para famílias através de um trabalho especializado no planejamento financeiro e diversificação global dos investimentos.

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