NFT: o que você deve saber sobre Tokens Não Fungíveis e o mercado alagoano

(Foto: Tezos/Unsplash)

Para além dos itens colecionáveis, tecnologia já movimenta milhões no Brasil.

No final de junho, o cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil anunciou o lançamento de uma coleção de NFTs em comemoração ao seu aniversário de 80 anos. Antes disso, no mesmo mês, uma pesquisa da Statista revelou que o Brasil é o segundo maior investidor de NFTs do mundo.

Ok, mas o que são NFTs, para que elas servem — coleção ou investimento — e a que nível de interesse o mercado alagoano está nesse tipo de tecnologia?

Para começar, é necessário entender o que a sigla representa e a definição atribuída a cada uma das letras. Assim, NFT significa Non-Fungible Token, traduzida para o português como “Token Não Fungível”.

“Se você vai em uma lanchonete e no balcão recebe uma ficha que representa o valor que foi pago, você recebeu um token que representa aquele montante para uso naquele local”,  explica o assessor de fusões e aquisições João Paulo Ramalho.

A partir dessa informação, em um sentido literal, um token pode ser entendido como uma representação de algo — que pode ou não ser concreto — por meio de um outro item que tem depositado em si os atributos relativos aquilo que ele tem como objetivo representar.

“Um bem fungível é aquele que pode ser substituído por outro de mesmas características sem que isso seja relevante para quem possui. Se eu troco uma nota de 10 reais minha por uma de 10 reais sua nós terminaremos com o mesmo valor, pois o dinheiro é um bem fungível”, complementa Ramalho.

Por outro lado, quando se trata de um bem não fungível, isto é, infungível, ele possui características intrínsecas que definem o seu valor, como um quadro, um item colecionável ou qualquer outro tipo de bem de caráter pessoal que tenha um valor subjetivamente atribuído a ele de forma única, assim como as NFTs.

Tokens fungíveis e não fungíveis na prática

Para entender melhor como o conceito é aplicado na prática, é necessário citar alguns exemplos de tokens ligados à tecnologia, como a blockchain — uma base compartilhada de dados que faz o registro e validação de transações digitais — usada no caso das NFTs.

“ETH, BNB, AVAX e LINK são exemplos de tokens fungíveis”, menciona Ramalho. Os tokens citados são tipos de unidades contábeis, como criptomoedas e, entre si, compartilham dos mesmos atributos que seus pares iguais.

Já os exemplos de NFTs são bem mais específicos e particulares, afinal é justamente a isso que se propõe o conceito do infungível, garantir a individualidade e originalidade daquele item, seja ele qual for.

“Um token não fungível conta com características únicas que atribuam a ele informações ou direitos específicos, por exemplo, o ‘direito’ de posse ou uso comercial de um bem, como uma peça de arte digital, colecionáveis diversos, domínios de sites ou até mesmo a representação da posse a algo fora do mundo digital, como um imóvel”, exemplifica o assessor de fusões e aquisições.

Mas para que serve uma NFT?

Até aqui foi explicado o que é uma NFT, mas para quem não entende de tecnologia, compreender para que a tecnologia serve pode ser uma dificuldade que acaba afastando o interesse por esse tipo de investimento.

E a verdade é que grande parte dos famosos que contribuíram para a popularização dos Tokens Não Fungíveis no Brasil, entraram no hype principalmente como colecionadores, como foi o caso do Neymar.

Em janeiro, o jogador de futebol comprou duas NFTs por mais de R$ 6 milhões. As criptoartes adquiridas por Neymar fazem parte da coleção Bored Ape Yatcht Club, os famosos macacos digitais.

Apesar dos tokens colecionáveis oferecerem alguns benefícios, como acesso a festas e eventos exclusivos, os tokens podem ser usados para muitas outras coisas, graças a possibilidade de confirmar a autenticidade e originalidade do item.

“Atualmente, existem diversas empresas que estão aplicando NFTs em cenários antes impossíveis, como servir de ingresso em um determinado evento ou clube de associados, fragmentação de propriedades físicas, registro de propriedades intelectuais, como livros, projetos industriais etc.”, revela Leandro Sales, engenheiro de software da Supercash, fintech alagoana que desenvolve soluções no setor financeiro.

“Basicamente, antes não era possível garantir, de forma descentralizada, quem era o proprietário de um objeto digital. Atualmente isso é possível e, por isso, o céu é o limite quando se pensa sobre a utilidade e, consequentemente, a aplicabilidade de NFTs”, destaca o engenheiro.

Além de ser uma tecnologia com centenas de possibilidades de uso, Leandro conta que qualquer pessoa que tenha conhecimento sobre linguagem de programação e blockchain pode criar uma NFT.

“Com esse conhecimento, o próximo passo é criar o que chamamos de contrato inteligente, um smart contract, que vai determinar as regras do que acontece com cada objeto digital que se transformará no que chamamos de NFT. Então esse contrato é executado pela Blockchain toda vez que o seu proprietário deseja realizar alguma ação com sua NFT, como por exemplo, transferir sua propriedade para outro usuário”, explica.

NFTs e o mercado local

Segundo a pesquisa da Statista, o Brasil é o segundo país com mais investidores de NFTs, quase 5 milhões. O primeiro lugar é da Tailândia, 5,65 milhões. E para Ramalho, o cenário pode ser justificado pela familiaridade dos brasileiros com as criptomoedas e investimentos ligados à tecnologia.

Mais do que isso, o assessor acredita que as modificações internas na economia do país também tornaram o investimento mais interessante para os brasileiros.

(Foto: Pixabay)
(Imagem: Pixabay)

“O boom dos NFTs teve um timing similar ao período em que tivemos uma diminuição relevante nas taxas de juros localmente, o que diminuiu momentaneamente a atratividade da renda fixa no Brasil e proporcionou uma busca por investimentos alternativos”, diz Ramalho.

Trazendo o assunto para a realidade alagoana, ainda é difícil mensurar o quanto os investidores, empresas e profissionais em geral estão adeptos — ou ao menos se adequando — para usar a tecnologia.

Mesmo assim, Sales aponta que, há pelo menos dois anos, vem percebendo uma movimentação do mercado em Alagoas, e inclusive participa de grupos de discussão que estão dedicados à pesquisa e soluções no mundo das NFTs.

“Tenho percebido que nós alagoanos ainda estamos muito no começo, muitos curiosos e até outros desenvolvendo algumas soluções, mas nada claro sobre algo escalável ainda, pelo menos na minha perspectiva”, conta.

Queda no mercado e quando decidir investir

Embora os Tokens Não Fungíveis tenham se mostrado promissores para diversas áreas — incluindo a arte e cultura —, a verdade é que em 2022 o mercado está enfrentando uma dura queda e desvalorização.

O que acontece é que a ETH — sigla para Ethereum, criptomoeda pela qual as NFTs são negociadas —, está desvalorizada, assim como ocorre também com as moedas físicas, em um processo já conhecido.

“Mercado é demanda e oferta, o que acontece é que está havendo uma baixa procura por esse tipo de ativo digital, causado, também, por essa recessão mundial”, esclarece o cientista de dados Dheiver Santos.

“NFTs não fogem da lei do mercado, é necessário um planejamento para que esses tokens possam ter sucesso em transações de compra e venda, mas acredito que nos próximos anos vamos nos encaixar e usar NFTS como um dos conceitos do metaverso”, pontua.

Fazendo um comparativo, as mesmas NFTs compradas por Neymar, em janeiro, por mais R$ 6 milhões, no final de junho estavam avaliadas em torno de R$ 1,45 milhão, uma queda de cerca de 77%.

Entretanto, o fato é que a tecnologia continua sendo estudada e chamando atenção de centenas de empresas, artistas e celebridades mundo afora, o que indica que muita coisa pode mudar nesse cenário, enquanto diversas soluções envolvendo Tokens Não Fungíveis vão sendo desenvolvidas.

Para quem se interessou pelo tema, João Paulo Ramalho ressalta que para avaliar o melhor momento para investir, o ideal é procurar um assessor de investimentos que tenha expertise na área de criptomoedas e possa contribuir com uma análise mais segura do mercado, em vez de investir sem o conhecimento adequado.


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Estagiária de jornalismo

Mais notícias para você