Renda fixa ou bolsa de valores: onde investir em cenário de juros altos?

(Foto: gustavomellossa/iStock)

Ter objetivos na hora de investir é fundamental para não cair em ciladas, diz especialista.

Após aumentar a taxa básica de juros, a Selic, para a casa dos 11,75% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central já alertou para a tendência de mais um aumento na próxima reunião, programada para acontecer no início de maio.

E o que é péssimo para quem conta com concessão de crédito para compra de imóveis, por exemplo, pode ser ideal para investidores interessados em ações na bolsa ou em títulos de renda fixa. Contudo, ainda que as alternativas sejam bem recomendadas pela mídia especializada, é preciso ter cautela.

O economista e assessor de investimentos Guilherme Lages explica que seguir sempre os assuntos do momento — nesse caso, a alta da Selic — pode ser um perigo para a tomada de decisão, especialmente no médio e longo prazo.

“Na mídia especializada sempre vai haver um assunto do momento, então ela pega esse assunto e tenta fazer campanha para atrair a atenção de novos investidores. Na verdade, isso leva o investidor ao erro, a fazer investimentos ruins”, destaca.

“Em momentos específicos, você vai ouvir falar mais em ações, em outros de renda fixa, de criptomoedas, em outro momento de imóveis”,

exemplifica o assessor.

Isso acontece porque, segundo Lages, o investidor acaba sendo influenciado a retirar seus investimentos de determinada posição antes do momento adequado. Afinal, conforme a movimentação do mercado econômico, as recomendações de investimentos mudam.

“A indústria — influencers, bancos, corretoras, assessores etc. — vai sempre querer capturar a atenção do investidor iniciante para os assuntos do momento e colocá-los como centrais para a tomada de decisão”, comenta Lages.

Importância do plano de investimentos

Para não cometer erros provocados pelo entusiasmo dos acontecimentos recentes, o mais adequado é traçar objetivos e metas a serem alcançadas com cada investimento, em vez de direcionar aportes somente para os que estão mais atrativos no momento.

“Primeiro, é importantíssimo salientar que não existe ‘hora para comprar bolsa’. Os investidores devem direcionar seus aportes financeiros para os ativos que vão proporcionar o alcance de seus objetivos da maneira mais eficiente possível”, enfatiza o economista.

A partir disso, Lages indica que o investidor inteligente tenha um plano de investimentos para atingir seus objetivos e não caia em ciladas durante o percurso, considerando sempre sua situação atual e projetando a futura.

Uma sugestão para isso é ficar de olho nas expectativas do mercado para os meses e ciclos seguintes. No caso da Selic, a projeção é que a taxa encerre o ano de 2022 próxima a 13% ao ano e já inicie o ano seguinte no ciclo de queda.

Decidindo onde e quando investir

Para investidores que seguem com dúvidas sobre a tomada de decisão em momentos como o da atual economia brasileira, Lages aponta algumas lógicas que podem facilitar o entendimento sobre o assunto, como comprar ações por um preço abaixo de seu valor.

“O alongamento da taxa básica de juros aumenta a taxa de desconto dos fluxos de caixa das empresas negociadas na bolsa e, dessa maneira, reduz o seu valor de mercado projetado. Assim, analisando por esse aspecto seria a ‘hora de comprar bolsa’”, explica.

(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Por outro lado, o cenário favorável para a renda fixa também pode ser benéfico para investimentos na bolsa, desde que devidamente avaliados e planejados conforme os objetivos do investidor.

“Com a renda fixa mais atrativa em um cenário de alta da Selic existe a tendência de um fluxo maior para esse tipo de papel, gerando pressão vendedora em ações e outros ativos de risco e, consequentemente, queda no preço. Dessa maneira, nesse cenário, também seria a ‘hora de comprar bolsa’”, cita Lages.

Avaliando o cenário para novos investimentos

Um outro ponto que também pode ser levado em consideração por quem deseja comprar ações é a chegada de investidores estrangeiros e a entrada de novas empresas com potencial crescimento na bolsa.

“O fluxo de recursos proveniente do exterior mostra um saldo positivo de entrada na bolsa brasileira. Isso pode ser positivo no curto prazo, pois gera uma pressão compradora e um consequente aumento de preço”, observa o economista.

Mais uma vez sem esquecer a necessidade de construir um plano de investimentos, considerando capacidades e perfil de risco, as empresas com IPO — sigla em inglês para oferta pública inicial — precisam de uma análise ainda mais cautelosa.

“Empresas com abertura de capital recente na bolsa possuem pouco histórico a ser analisado, prejudicando a análise de seu valor justo. Essa é a principal razão para considerarmos IPO um investimento com risco assimétrico”, alerta Lages.


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Estagiária de jornalismo

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