Sonho da casa própria deve ficar mais distante para participantes de programa popular.
Com a taxa Selic, que representa os juros básicos da economia, voltando à marca de dois dígitos pela primeira vez desde 2017, o mercado imobiliário deve ser um dos maiores afetados. Em Alagoas, o setor, até então em valorização, tende a ser desacelerado.
O advogado e especialista em direito imobiliário Charles Vieira explica que, a nível nacional, o mercado de imóveis sofrerá um maior impacto por ter uma grande relação de dependência com a concessão de crédito para gerar mais vendas.
“É natural, em uma conjuntura econômica como a do Brasil, em que somos extremamente dependentes do crédito, o mercado imobiliário ser afetado com a Selic voltando ao patamar de dois dígitos”, afirma.
No entanto, apesar de acreditar que os novos números da Selic vão desacelerar o crescimento do setor da construção civil em Alagoas, o advogado considera que os incentivos do governo ainda deverão manter o mercado com certa movimentação.

“O Governo Federal estimou mais de R$ 300 bilhões no orçamento para a concessão de crédito imobiliário pela Caixa Econômica. Estamos em um ano de eleição e o governo que está tentando se reeleger vai conceder esse crédito”, enfatiza.
Ou seja, ainda que os juros básicos sofram uma alta considerável, não está prevista uma redução na quantia monetária destinada ao crédito para compra de imóveis, garantindo que pessoas com maior poder de compra consigam fazer novas aquisições.
Dificuldades para os programas populares
Com a inflação seguindo elevada no setor e a alta da Selic, o especialista ressalta que pessoas de renda mais baixa, que necessitam dos programas do governo, tendem a sofrer mais com os juros.
“O pessoal que adquire casa pelo programa Casa Verde e Amarela (antigo Minha Casa, Minha Vida) vai ter um impacto maior, mas o setor de médio e alto padrão continuará crescendo, não no mesmo volume que antes, mas ainda em crescimento”, analisa Charles.
A título de exemplo, advogado conta que as grandes construtoras que atuam no estado continuam lançando empreendimentos de alto padrão, especialmente nas áreas mais nobres de Maceió e região.
“A forma como o mercado da construção civil vai sentir [a alta da Selic], na minha opinião, é uma forma de crescimento reduzido”, considera o especialista.
Crescimento no volume de aluguéis
Segundo Charles, o mercado de aluguéis em Alagoas já vem em crescimento elevado há pelo menos dois anos. Isso acontece porque, as antigas taxas Selic em baixa geraram uma inflação no preço de compra dos imóveis.
“O metro quadrado, principalmente em regiões nobres de Maceió, chegando a bater de R$ 8 a 10 mil, vai continuar aquecendo o mercado de aluguéis, ainda mais com a dificuldade em conceder crédito”, explica.
Fora isso, a evacuação de cerca de 40 mil pessoas do bairro Pinheiro, em razão do afundamento do solo, aumentou as buscas por imóveis, impulsionando ainda mais a inflação. Assim, mesmo quem já foi indenizado continua com dificuldades para encontrar uma nova moradia.
“Nós temos ainda o fenômeno que envolve a tragédia ambiental da Braskem. Isso faz com que essas pessoas precisem se realocar em outros bairros da cidade. E a oferta de apartamentos não acompanhou essa demanda que surgiu, de certa forma, repentina”, conta o advogado.
Histórico recente da Selic
No início de fevereiro, por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic, juros básicos da economia, de 9,25% para 10,75% ao ano. A taxa havia atingido os dois dígitos pela última vez em julho de 2017.
No entanto, a Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. A taxa foi reduzida novamente até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19.
Entretanto, o ciclo de alta da Selic já vinha acontecendo desde 2021 e esta foi a oitava alta consecutiva, já esperada pelos especialistas financeiros.
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