Baixo valor de produtos exportados é um dos fatores para déficit, avalia especialista.
Apesar das exportações terem batido o recorde em 2021 no Brasil, alcançando um superávit de US$ 61,01 bilhões, em Alagoas o cenário tem sido o oposto, com importações crescendo mais do que as exportações.
O superávit diz respeito ao valor a mais lucrado com vendas para o exterior do que gasto em compras da mesma natureza, o que significa que o Brasil vendeu 61 bilhões de dólares a mais do que comprou do exterior.
Para Alagoas, entretanto, a balança comercial fechou em déficit de mais de US$ 328,19 milhões. Isso porque, os gastos com aquisições do exterior foram maiores do que com o valor recebido com vendas exportadas.

Em números, o valor despendido em 2021 com importações ficou na casa dos US$ 772.879.259,00, enquanto em 2020 a quantia foi de US$ 665.571.553, representando um aumento de 16,12%.
Já as exportações do último ano fecharam em US$ 444.680.686, contra US$ 418.186.466 arrecadados em 2020. Dessa forma, o aumento das exportações foi de apenas 6,33%.
Fatores de influência para o déficit
Para a economista Nathália Araújo, são várias as razões para esse resultado negativo, como a recessão econômica provocada pela pandemia. No entanto, analisando de forma mais ampla, é possível perceber que os déficits antecedem o período pandêmico.
“Uma pesquisa simples realizada no portal de estatísticas de comércio exterior do Brasil, o Comex Stat, mostra que os déficits acumulados, para dados anuais, pela balança comercial alagoana vem ocorrendo desde meados de 2017, o atual cenário macroeconômico vem então reforçando esse cenário”, analisa a economista.
Além disso, outro fator que dificulta um crescimento nos valores arrecadados com vendas para o exterior são as políticas macroeconômicas internacionais exercidas sobre os itens produzidos não apenas em Alagoas, como em todo o país.
“Os resultados para as exportações alagoanas e brasileiras continuam majoritariamente de produtos com baixo valor adicionado”, ressalta Nathália.
Fragilidade no setor tecnológico
Por outro lado, as medidas de distanciamento social e a mudança no estilo de trabalho para o home office causaram impacto nas buscas por produtos tecnológicos. Para a economista, esse fato também deve ser comparado ao fato de que o país não possui uma produção consolidada neste ramo.
“Comparando 2019 e 2020, a variação nas importações desses produtos [de telecomunicações] foi de aproximadamente 79,9%, já com relação a 2020 e 2021 esse percentual foi de 20,26% aproximadamente, quando em meados de 2017 e 2018 era de apenas 17,64% aproximadamente”, destaca.
Nathalia afirma ainda que as atuais políticas cambiais e monetárias adotadas também influenciam nesse resultado, visto que as importações passam a ter um peso cada vez maior.
Falta de investimento nos setores internos
Outro problema que chama a atenção diz respeito às importações de insumos essenciais para a produção agrícola — justamente a responsável pela maior porcentagem de exportações da região.
“Houve uma variação expressiva de aproximadamente 96% entre 2020 e 2021, para adubos ou fertilizantes, que vinham de uma queda nas importações de -12,8% entre 2019 e 2020”, explica Nathália.
Para ela, os desafios para conseguir reduzir os valores gastos com exportações continuam sendo os mesmos de décadas atrás, já que os setores de produção mais fortes no estado não recebem investimentos suficientes.
“Investir em seus próprios setores — sejam indústrias com maior nível de especialidade, e/ou produtos mais demandados pelos consumidores — e investimento em infraestrutura tecnológica, agrícola e social são formas de conseguir resultados positivos para o setor a longo prazo”, avalia.
Expectativas para 2022
A nível nacional, o Ministério da Economia projeta um superávit de US$ 79,4 bilhões para 2022. Há ainda uma expectativa de melhora no setor agropecuário com a queda no preço das commodities – produtos como trigo, milho e açúcar -, que funcionam como matéria-prima para fabricação de outros itens.
Com isso, Nathália aponta que a concretização dessa queda de preços poderá diminuir também o preço dos alimentos nas prateleiras. Para ela, a proximidade das eleições também deve ser responsável por flutuações expressivas nos mercados e por afetar o desempenho da balança comercial brasileira.
Apesar de haver a expectativa positiva, a economista acredita ser difícil ter previsões precisas para o ano de 2022. Isso pois o cenário atual já apresenta oscilações, ora provocadas pela pandemia, ora por consequência dos outros fatores aqui já citados.
“As exportações e importações brasileiras apresentam sinais de que seguirão o mesmo patamar de crescimento. Entretanto, em relação à balança comercial alagoana, influenciada pelos resultados do país, as previsões apontam queda nas exportações e aumento das importações, como ocorrido em 2021”, pontua.
Mas apesar da alta nas taxas inflacionárias e do crescimento do desemprego no país estarem dificultando o desempenho da economia, Alagoas pode ter acumulado boa reserva para fazer os investimentos necessários nos seus setores de produção.
“Os resultados da execução fiscal do estado de Alagoas demonstram uma poupança corrente positiva em relação à receita corrente líquida, o que dá maior autonomia ao mesmo para realização de novos investimentos que irão impulsionar a economia alagoana sendo gerador de emprego e renda”, especula a economista.