Estado vizinho já registrou mais de 200 casos de escabiose resistente.
Um trabalho publicado pelo Núcleo de Estudos em Farmacoterapia (NEF) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em agosto de 2021, poderá servir de base para ajudar na investigação de um surto de escabiose (sarna humana), que está acontecendo em Pernambuco.
A hipótese levantada pelos pesquisadores é que os casos estejam associados ao uso indiscriminado de ivermectina, popularizado no Brasil durante a pandemia com o chamado “kit Covid”.
O artigo foi elaborado pelos pesquisadores do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), Alfredo Oliveira-Filho e Sabrina Neves, e pelos estudantes Lucas Bezerra e Natália Alves.
Qual o objetivo da pesquisa?
O trabalho aponta que, após o início da pandemia, “a ivermectina foi identificada como um fármaco com potencial antiviral para o tratamento de pacientes – a princípio hospitalizados e depois ambulatoriais – com Covid-19”. Com isso, o consumo do antiparasitário aumentou no país.
A partir dessa informação, o estudo observou casos de resistência ao medicamento que já foram relatados, além de surtos isolados e dados de aumento de consumo do medicamento durante a pandemia.
O que foi descoberto?
Os pesquisadores lançaram a hipótese de que o país poderia ter problemas de saúde pública com surtos de escabiose resistente devido o uso irracional da ivermectina.
“O surto está configurado, pois está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, explica a professora Sabrina Neves.
Entretanto, Neves ressalta que ainda não há um diagnóstico da doença que está causando o surto, e que ainda são necessários alguns testes e o descarte de outras hipóteses, para confirmar as questões levantadas no estudo.
Caso a hipótese seja confirmada, a professora explica que a situação pode gerar futuras complicações de saúde pública.
“A hipótese do artigo é que é possível que o Sarcoptes scabiei, ácaro causador da escabiose pode ter desenvolvido resistência à ivermectina. Se essa hipótese se confirma, temos um problema enorme, pois a doença poderia atingir qualquer população, e o que é pior, com dificuldade de tratamento”, completa.
Mais de 200 casos foram registrados em Pernambuco
Cerca de 264 moradores de seis cidades da região metropolitana de Recife (PE) apresentaram lesões cutâneas, que estão sendo investigadas pelas secretarias de saúde dos municípios. Os pacientes se queixam de coceira forte, intensificada durante a noite, e que evolui para feridas mesmo com o uso de antialérgicos.
De acordo com Neves, a vigilância epidemiológica emitiu um alerta com os sintomas para os serviços de saúde para mapear os possíveis casos em outras regiões do país. Dessa maneira, todos devem notificar o atendimento a pacientes com esses sintomas.
Resistência ao medicamento
De acordo com a docente, o uso irracional de medicamentos é um problema de saúde pública.
“No caso de antibióticos, antiparasitários e antifúngicos, esse problema ganha proporções maiores. Quando utilizamos de forma irracional/incorreta medicamentos como a ivermectina, corremos o risco de induzir a resistência do parasita ao medicamento que deveria tratar a doença causada por ele”, complementa.
Neves explica que este é um problema mundial, principalmente a respeito da resistência bacteriana, uma vez que já existem várias cepas de bactérias resistentes a antibióticos no mundo todo.
“Nesse caso, o uso irracional do medicamento leva a um problema geral, pois gera cepas resistentes a tratamento, que podem infectar qualquer pessoa”, conclui.
Ficha técnica
PAPER: Increased use of ivermectin in Brazil and the risk of scabies outbreaks
AUTORES: Alfredo Dias de Oliveira-Filho, Lucas Tenorio Carmo do Nascimento Bezerra, Natalia da Silva Alves e Sabrina Joany Felizardo Neves.
DEPARTAMENTO: Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), Universidade Federal de Alagoas (Ufal)
E-MAIL: alfredo.dias@icf.ufal.br; lucaastenorio@gmail.com; nataliasalves2@gmail.com e sabrina.neves@icf.ufal.br mail.com
DISPONÍVEL EM: Ufal.br